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Opinião: Desenvolver leitura e interpretação é o desafio da escola



ilustração (Foto: Arte/G1)ilustração (Foto: Arte/G1)
Certa vez, ao iniciar um curso sobre leitura numa pós-graduação, houve uma mudança na sala onde as aulas seriam ministradas. Muito cuidadosa, a professora, além de deixar um comunicado no site onde havia informações práticas, colocou no antigo local um aviso sobre a troca.
Com um bom tanto de atraso, alguns alunos, ao chegar, comentaram que ficaram esperando na outra sala e que só foram para o novo espaço quando informados por um funcionário. A professora não se conteve e disse em tom de ironia: “Estamos começando bem nosso curso de leitura!”. Isso ocorreu há alguns anos, mas nunca esqueci. Inclusive, faz pensar o quanto deixamos de nos informar nas coisas da vida pela falta de hábito de ler sobre elas.
Um exemplo clássico é não consultarmos os manuais de instrução dos produtos que compramos. Isso é comum entre os brasileiros. Muitos batem cabeça tentando adivinhar como funciona um aparelho eletrônico novo – diante do livro que o acompanha, nega-se a estudá-lo e assim usufruir melhor da nova aquisição. Além da falta de curiosidade sobre materiais impressos, muito provavelmente falta a humildade de reconhecer que não se sabe tudo.
A escrita é uma forma de comunicação. Sua interpretação permite às pessoas transitar melhor pela vida, tornando as coisas mais eficientes e funcionais. Ficam sabendo o que é realmente necessário fazer (quantas vezes não reclamamos que não fomos informados de algo?), tomando consciência daquilo que as envolve.
Como os contratos de trabalho ou de compra e venda, que muitas vezes são assinados sem o pleno conhecimento de seu conteúdo. Nesses casos, as consequências são mais desastrosas.
O que será que acontece? Será pura preguiça? Ou ainda não nos demos conta da necessidade da leitura como ferramenta prática para o nosso dia a dia?

Em nosso país, a prática de ler parece associada a algo ruim ou elitizado. Ler é para poucos ou para aqueles que não sabem aproveitar outras coisas. Nem todos gostam de ler um livro, é certo. Porém, não só para decifrar livros a leitura serve.
Os primeiros contatos que um indivíduo estabelece com algo ou alguém é muito importante - determina como será a relação deles no futuro. Com a leitura não é diferente, o que se dá principalmente na escola, sendo necessário repensar como ela tem sido trabalhada. No geral, seu aprendizado é algo difícil, que expõe (leituras em voz alta na frente da classe), enfadonho, sem sentido, com literatura pouco adequada... Enfim, algo para cumprir mais uma obrigação escolar.
A leitura vai muito além dos clássicos literários. Ela é usada em todas as disciplinas: matemática, física, química, ciências... Desenvolver a capacidade leitora e interpretativa de seus alunos é o principal desafio da escola.
No entanto, sua aprendizagem formal parece desvinculada da realidade do dia a dia, deixando-a sem sentido para os pequenos aprendizes. E adolescentes também. Aprende-se tantas coisas (no futuro tem o vestibular), que algumas básicas, como direito civil, por exemplo, não se tem a mínima noção. Ou a importância de se estar informado, lendo as coisas que fazem parte de seu cotidiano.
Ler e interpretar o que foi lido é de extrema importância para cada um de nós. Que chegue logo o tempo que isso se torne natural para o nosso povo.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
Fonte: G1.com

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