FIGURA é um desvio linguístico. É o afastamento do valor linguístico normalmente aceito; assume, assim, um novo aspecto para um fim expressivo.
As figuras podem ser sintáticas ou semânticas.
A) Figuras sintáticas:
1. Silepse – é aquela em que o determinante concorda com o
determinado segundo a ideia que está subentendida, e não de acordo com a lógica gramatical:
a) Silepse de gênero: “Vossa Majestade (feminino) é justo e bom
(masculino); “A gente (feminino) às vezes é obrigado (masculino) a confessar que errou”;
b) Silepse de número: “O povo (singular) corria para todos os lados
e gritavam alucinados (plural)”; “Percorria as ruas muita gente (singular) com lanternas. Tocavam e dançavam (plural)” (Jorge de Lima);
c) Silepse de gênero e de número: “A torcida (feminino, singular)
reclamava. Gritavam exaltados (masculino, plural)”; “Aquela gente (feminino, singular) toda ali, apavorados (masculino, plural)”;
d) Silepse de pessoa: “Todos (3a. pessoa) decidimos (1a. pessoa)
adiar as provas”; “Os portugueses (3ª. pessoa) somos (1a. pessoa) do Ocidente” (Camões);
2. Hipálage – figura pela qual se dá realce a um determinante,
associando-o a um termo que não é logicamente o seu correspondente determinado, assim se criando um sintagma inesperado (Mattoso Câmara):
a) “Vou subir a ladeira lenta” (Carlos Drummond de Andrade) – (lento sou eu e não a ladeira);
“E atravessou a rua com seu passo bêbado” (Chico Buarque de
Holanda) – (bêbada estava a pessoa e não o passo);
“Adélia fumava um cigarro lânguido” (Eça de Queirós) –
(lânguida é Adélia e não o cigarro);
“A beleza satânica da mulher aterrorizou Fernando” (José de
Alencar) – (satânica é a mulher);
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada” (Machado de Assis) – (oblíquos são os olhos);
3. Elipse – é a omissão de um termo que pode ser subentendido pelo contexto:
“O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas” (José de Alencar) – (o sol deitava-se); “Acordei e não vi nada” (Tomás Antônio Gonzaga) – (Eu acordei e eu não vi nada);
Zeugma – é a elipse de um termo nomeado anteriormente com forma diferente: “Ele não nos entende nem nós a ele” (nem nós entendemos a ele); “Tu buscas a Terra e eu, os céus” (eu busco os céus);
4. Pleonasmo – é o emprego de palavras ou expressões que repetem o conteúdo significativo de um termo já existente, para enfatizar uma ideia ou para evitar ambiguidade:
a) Pleonasmo de ideia: “Lutavam uma luta inglória”; “Vi com meus
próprios olhos”;
b) Pleonasmo de função: “O jogo, disse que ele será fácil” (sujeito
pleonástico); “O ato do vizinho é muito mais importante do que lhe parece a ele” (Carlos Drummond de Andrade) – (objeto indireto pleonástico);
c) Pleonasmo vicioso: subir para cima, hemorragia de sangue, elo
de ligação, planejamento antecipado, adiar para depois, encarar de frente, duas metades iguais, surpresas inesperadas…
5. Anacoluto – é a quebra da estrutura sintática de forma que um elemento fique sem função sintática: “Ele, por exemplo, que teria dito dele o finado?“ (Machado de Assis); “Eu, parece-me que sim; pelo menos nada conheço que…” (Mário de Sá Carneiro);
6. Braquilogia – é o emprego de uma expressão mais curta em substituição a outra mais complexa: “Entrava e saía da sala” (entrava na sala e saía dela = da sala); “Contou tudo que ocorreu antes, durante e depois da reunião” (antes da reunião, durante a reunião, depois da reunião); “O dentista arrancou-lhe um canino” (um dente canino);
7. Inversão – é a colocação dos elementos da frase fora da sua ordem lógica: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante” (As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico); “Que importa de um nauta o berço?” (Que importa o berço de um nauta?); “Imenso trabalho nos custa a flor” (A flor nos custa imenso trabalho);
8. Antecipação ou Prolepse – é a colocação de um termo de uma oração na anterior: “Os livros dizem / que são bons” (Dizem / que os livros são bons); “O vigia foi ver as portas / se estavam fechadas” (O vigia foi ver / se as portas estavam fechadas); “A casa de Davi é certo / que foi fundada pelo verdadeiro Deus” (Padre Vieira) (É certo / que a casa de Davi foi fundada pelo verdadeiro Deus);
9. Assíndeto – é a omissão do conectivo coordenativo: “Vim, vi, venci” (=Vim, (e) vi, (e) venci); “A multidão agitou-se, murmurou, bradou, ameaçou” (= …agitou-se, (e) murmurou, (e) bradou, (e) ameaçou); “Tornou-se a deusa dos bailes, a musa dos poetas, o ídolo dos noivos em disponibilidade” (José de Alencar);
10. Polissíndeto – é a repetição do conectivo coordenativo: “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua” (Olavo Bilac); “E os olhos não choram. E as mãos não tecem… E o coração está seco” (Carlos Drummond de Andrade).
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