B) Figuras semânticas (continuação)
8. Metonímia – é o emprego de uma palavra fora de seu significado básico por efeito de associação de ideias, que pode ser feita de várias maneiras:
a) parte pelo todo: “As velas sulcam os mares” (as naus, as embarcações); “As asas cortam os céus” (pássaros ou aviões); “Comprou cem cabeças de gado”, “Pediu-lhe a mão em casamento”;
b) autor pela obra: “Apreciamos um belo Di Cavalcanti” (quadro, pintura); “Sempre leu Machado” (obras de Machado de Assis);
c) continente pelo conteúdo (e vice-versa): “O macarrão estava tão bom que comemos dois pratos” (de macarrão); “Abrimos muitas cervejas” (garrafas de);
d) causa pelo efeito (e vice-versa): “Os cabelos brancos impõem respeito” (velhice); “Ganha o pão com o suor do seu rosto” (trabalho);
e) lugar pelo produto: “Bebemos um Porto saborosíssimo” (=vinho); “Fumavam um Havana legítimo” (charuto);
f) Instrumento pelo agente: “Ele é um bom garfo” (comilão); “Tratava-se de um grande volante” (piloto);
g) Matéria pelo objeto: “Os bronzes repicam no alto campanário” (sinos);
h) Sinal pela coisa significada: “Trono e altar, uni-vos” (estado e igreja); “A espada se curva diante da cruz”;
i) Abstrato pelo concreto: “O crime habitava naquela casa” (criminosos);
j) Singular pelo plural: “O inimigo cercou-lhe por todos os lados” (inimigos);
k) Cor pelo objeto: “O vermelho lhe corria nas veias” (sangue); “Voava pelo azul do Rio de Janeiro” (céu); “Pedi para chover, para o verde voltar”;
9. Antítese – é a valorização expressiva de uma ideia pela aproximação de palavras ou expressões que apresentam sentidos contrários: “Era o porvir – em frente do passado / A liberdade – em frente à escravidão” (Castro Alves); “Buscas a terra, eu os céus” (Olavo Bilac); “Sorrir em meio dos pesares e chorar em meio das alegrias” (Manuel Bandeira); “Até mesmo o pensamento da morte ainda é vida”; “Temo que qualquer longo tempo curto seja”;
10. Perífrase – consiste no emprego de toda uma expressão para substituir o nome de um objeto ou de uma pessoa: “O poeta dos escravos” (Castro Alves), “A cidade maravilhosa” (Rio de Janeiro), “O novo mundo” (América), “Creio no Supremo Criador do Universo” (Deus), “Amou o pai dos deuses (Júpiter) soberano” (Tomás Antônio Gonzaga);
C) Outras figuras e recursos expressivos:
1. Alusão – é a figura na qual se faz referência a um fato ou
personagem: “Começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka” (Fernando Sabino – Kafka: escritor, autor de Metamorfose = literatura do absurdo); “Instalava-se … o mais autêntico … Regime do Terror” (Fernando Sabino – Regime do Terror = governo francês na época da Revolução Francesa);
2. Apóstrofe – consiste na interpelação, na evocação às pessoas ou coisas personificadas como se estivessem presentes (=Vocativo): “Andrada! Arranca esse pendão do ares! / Colombo! Fecha a porta dos teus mares!” (Castro Alves); “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?” (Castro Alves);
3. Gradação (Clímax e Anticlímax) – consiste no emprego de expressões sucessivas, para acumular efeitos expressivos, até alcançar culminância emocional; ou, ao contrário, visando à desvalorização:
Clímax = gradação ascendente: “O homem nasce, cresce, sofre e morre”; “…a urze…desabrocha / bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha” (Guerra Junqueira);
Anticlímax = gradação descendente: “Fugíamos do país, da cidade, do bairro, das pessoas”; “Te converta essa flor, essa beleza, em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada” (Padre Vieira);
4. Ironia – consiste no emprego de palavras, expressões ou frases que, graças ao contexto ou à entonação, sugere coisas contrárias ao que significam literalmente: “Espiar a vida alheia,…depois de tantos anos, restam grandes vestígios desse belo hábito” (Manuel Antônio de Almeida); “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos” (Machado de Assis); “Cuido haver dito que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia” (Machado de Assis);
5. Paradoxo – consiste na reunião de ideias contraditórias num só pensamento: “Amor é fogo que arde sem se ver / É dor que desatina sem doer” (Camões); “É uma catedral horrível / Feita de pedras bonitas” (Mário de Andrade); “Nada! Esta só palavra em si resume tudo” (Aluísio de Azevedo); “Oh! Mundo encantador, tu és medonho!” (Fagundes Varela);
6. Enálage – consiste em dar a um tempo verbal uma aplicação diversa da que lhe é própria: “Que fora o claro se não fora o escuro” (seria – fosse); “Se dás um passo, morres” (deres – morrerás); “Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse também não adiantava (adiantaria)…” (Guimarães Rosa);
7. Aliteração – consiste na repetição de fonemas, ou grupos de fonemas consonantais em frases ou versos: “A procissão cicia uma prece” (/ce/); “Que a brisa do Brasil beija e balança” (/be/) (Casimiro de Abreu); “Replicava aos surdos roncos do trovão bravio” (/re/) (Castro Alves); Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas vagam pelos velhos vértices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas” (/ve/) (Cruz e Souza);
8. Onomatopeia – consiste no emprego de palavras ou expressões cuja impressão sonora procura reproduzir sons da natureza: “Sino de Belém bate bem-bem-bem” (Manuel Bandeira); “Ringe e range a rígida moenda / E ringindo e rangendo, a cana a triturar”; “Agora sim / café com pão / Agora sim / Voa, fumaça / Corre, cerca / Ai, seu foguista / Bota fogo / Na fornalha / que eu preciso / Muita força / Muita força / Muita força” (Manuel Bandeira).
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