A BATALHA ENTRE O PRESENTE E O AUSENTE
Bruno Coriolano de Almeida Costa
É desprezível, mas é uma verdade que nossa educação anda ziguezagueando e agonizando dia após dia. A aula começa e o professor ensaia nervosamente as primeiras palavras, mas de repente começa o tiroteio de psiu-psiu, pedindo silêncio e mendigando um pouco de atenção para um bando de alunos ligados nos 220 volts.
O danado do grupinho que senta no fundão começa o cochichado, e o grupo das patricinhas passa uma revista de fofocas de mão em mão. A desatenção é de 100%. Em determinado momento, toca um celular. Deve ser uma mensagem de alguém que não tem nada a ver com o assunto tratado na aula. O papo é posto em dia. Tudo tem mais importância do que aquela aula de História do professor.
O mestre começa a falar sobre a Idade Média, mas os alunos querem é saber mesmo é da mídia. O que está passando na TV e o que tá rolando na net. Nada de aulas. O pobre do homem continua, em seu monólogo que parece não ter fim, descrevendo como as pessoas se vestiam naquela época. “Quem liga pra essas coisas antigas?” Eles querem é saber daquele novo par de calças jeans que viram no shopping semana passada.
De repente o blá-blá-blá do professor é quebrado. Alguém pergunta pela merenda do dia e todos olham para o relógio do celular. O educador começa a suar frio, empalidecer e pensa: “será que a aula está perto de terminar?”
Em determinado momento ele insiste: “alguém tem alguma dúvida, pergunta ou colocação?”. Claro que o esforço é totalmente em vão. Nem uma simples palavrinha é pronunciada em resposta.
Com o tempo, a coisa fica mais angustiante. Um aluno saca, da sua mochila, uma arma mortal, um verdadeiro tirador de atenção: um mp4 player. O menino mostra um vídeo amador feito por ele mesmo na semana passada. Todos fazem aquela zorra pra ver o que acontece. Toca o sinal e, como se estivessem saindo de uma prisão, os alunos correm numa gritaria em direção ao pátio da escola, sem nem mesmo falar com o professor que havia falado todo aquele tempo sozinho. Lá fora, a gritaria continua. Parece ser a maior alegria do dia da grande maioria.
Na sala de aula, agora quase que totalmente vazia, resta o que sobrou do mestre e um monte de livros e cadernos jogados no chão. Com o semblante triste, mas com a consciência tranquila por ter ensinado, o professor se sente aliviado por ter terminado a aula pelo menos sem ter se machucado. Em um movimento quase involuntário, o professor apanha um livro do chão e olha fixamente e pensativo enquanto o coloca sobre a mesa. É hora de tomar um cafezinho na sala dos servidores e ver os outros colegas de profissão respirando aliviados por não estarem mais gritando em sala, pedindo atenção dos alunos e preparando-se para a próxima turma. No ar, apenas a certeza da luta entre o ser que estava presente à aula e os outros que estavam ausentes.
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