O Hip Hop, no Brasil, inicia-se na década de 1980 e a cidade de São Paulo apresentase como o principal centro desse movimento no país. O primeiro elemento a tornar-se conhecido, enquanto parte do Hip Hop, foi o break, por intermédio, em grande parte, dois filmes: Beat Street e FlashDance. O primeiro, produzido por Sidney Portier em 1984, mostrava a cultura Hip Hop como um estilo de vida, e possuía participação de dançarinos famosos como os da New York Breakers.
O segundo, produto típico da mídia hollywoodiana, em uma de suas cenas, mostra uma batalha de break. Os primeiros dançarinos de break reuniam-se na Estação São Bento de metrô em São Paulo e ali entre palmas ritmadas, batidas em latas e beat box criavam-se os primeiros MCs de RAP que logo criariam um território próprio, a praça Roosevelt, berço da primeira posse brasileira, o Sindicato Negro. As primeiras letras de RAP eram bem mais ingênuas dos que as atuais, predominava o chamado “RAP estorinha”, sem muita consciência crítica. Com a crescente organização dos dançarinos de break e rappers, surgem oportunidades de gravar músicas em coletâneas históricas do RAP nacional como:
“Ousadia do RAP”, pela Kaskatas, “O Som das Ruas”, primeiro LP lançado pela Chic Show, “Situation RAP”, pela FAT Records, “Consciência Black” (que lançou os Racionais), da Zimbabwe, em 1988, seguidos pelo famoso “Cultura de Rua”, da Eldorado. Muitas dessas gravadoras surgiram das equipes de som que organizavam os bailes black desde a década de 70. (Pimentel, p. 16)
Uma das primeiras letras de RAP que abordavam um tema crítico-social foi Homens da Lei de Thaide e DJ Hum, que falava sobre a violência policial em São Paulo, em Osasco e ABC paulista. Já no final da década de 1980, os rappers começaram a produzir letras conscientes, versando sobre o racismo, a pobreza, as injustiças sociais. Coincidia com este processo a enorme procura dos rappers por leituras que ajudassem no entendimento dos problemas que vivenciavam. O antropólogo Silva em seu artigo “Arte e Educação: A Experiência do Movimento Hip Hop Paulistano”, no livro “Rap e Educação, Rap é Educação”, organizado por Elaine Andrade (apud PIMENTEL, p. 18) destaca:
Nesse momento os rappers enfatizaram que o ‘autoconhecimento’ é estratégico no sentido de compreender a trajetória da população negra na América e no Brasil. Livros como ‘Negras Raízes’ (Alex Haley), ‘Escrevo o que eu Quero’ (Steve Byko), biografias de Martin Luther King e Malcolm X, a especificidade do racismo brasileiro, especialmente discutida por Joel Rufino e Clóvis Moura, bem como lutas políticas da população negra, passaram a integrar a bibliografia dos rappers.”
A influência de grupos norte-americanos como NWA e Public Enemy, filmes de Spike Lee como Faça a Coisa Certa e Malcom X ajudava os rappers brasileiros neste processo também. Isto em São Paulo, Brasília, Recife e Porto Alegre.
Por outro lado, no Rio de Janeiro, berço dos gigantescos bailes blacks de soul na década de 1970, o Miami bass acabou por dominar o RAP carioca, com suas batidas quebradas e versos curtos, usualmente com conotações sexuais. Alguns miamis cariocas possuem letras que refletem sobre a pobreza, enquanto outras exaltam a vida bandida dos soldados e traficantes dos morros e suas respectivas organizações. Erroneamente chamado de funk carioca o Miami bass do Rio de música marginal virou produto da mídia, invadindo as boates da elite carioca. Posteriormente alguns rappers, como MV Bill, desenvolveram também o RAP consciente no Rio de Janeiro.
Por volta de 1995, alguns grupos de RAP destacavam-se no cenário nacional: Racionais MC´s da zona sul de São Paulo, com letras sobre a condição do negro no Brasil e o crime na favela; o MRN (Movimento e Ritmo Negro), também de São Paulo, com versos sobre o cotidiano da vida na periferia, seus problemas, seus personagens e situações; o DMN (Defensores do Movimento Negro), grupo paulista fortemente politizado com letras de autovalorização negra; GOG de Brasília, mostrando que é possível fazer uma grande reflexão sobre a realidade através do RAP; Faces do Subúrbio de Recife, que misturavam RAP com guitarras e embolada, Sistema Negro de Campinas; Potencial 3; e continuando suas carreiras, Thaide e DJ Hum.
É na década de 1990 que o RAP de improviso ou freestyle como a desenvolver com toda força no Brasil com a formação da Academia Brasileira de Rimas. Tivemos a oportunidade acompanhar algumas batalhas de improviso entre MCs, as rimas vão sendo feitas na hora, sobre algum assunto presente no ambiente, ou sobre qualquer coisa, os poetas rimadores como o repente nordestino.No Brasil há vários Freestyle atuais como Mc Marechal, Emicida, Gil, Aori, entre outros.
Em termos musicais os rappers brasileiros são bastante influenciados por artistas de outros estilos como Jorge Ben, Tim Maia, Gerson King Combo, Marvin Gaye, Curtis Mayfield, James Brown, além da forte influência da “malandragem consciente” do samba de morro de Bezerra da Silva, Dicró, Moreira da Silva, Leci Brandão e Originais do Samba. Com o surgimento de grupos americanos como o Wu Tang Clan, com rimas bem construídas e bases sonoramente revolucionárias, o RAP no Brasil sofre esta influência, surgindo grupos como SNJ ( Somos Nós a Justiça).
Fonte: Blacksound.com.br
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