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As "armadilhas" da Língua materna.

1.    Cuidado com os modismos!

Volta e meia surgem termos e expressões que caem no gosto popular, e o brasileiro sai usando como se fosse alguma coisa “superior”, como se estivesse falando melhor e mais bonito.
O mais incrível é que muitos desses modismos nascem entre pessoas consideradas intelectualmente cultas.
Fora o famoso A NÍVEL DE, que julgo estar morto mas ainda não devidamente enterrado, há outros que sobrevivem garbosamente.
Entre executivos, empresários, consultores e outras categorias profissionais, é frequente ouvirmos “coisas” do tipo: “nicho de mercado”, “agregar valor”, “alavancar negócios”, “problemas pontuais” e assim por diante.
Nada errado, o que incomoda é a repetição, é o uso excessivo. Isso é pobreza de estilo.
É interessante observarmos o mau uso do adjetivo PONTUAL, que vem do inglês e significa “específico, restrito”. Em português, é bom lembrar, PONTUAL é “quem chega na hora marcada, quem cumpre o horário estabelecido”. Portanto, essa história de “problemas pontuais” pode causar confusão. É bobagem. É a mania de achar que falar bem é falar difícil.
Outro modismo que merece destaque é o verbo SINALIZAR. Esse invadiu gloriosamente a linguagem jornalística: “A decisão do governo sinaliza manutenção da política cambial”; “A alta do dólar sinaliza uma elevação dos preços em geral”; “Opção por Jorginho sinaliza que o Flamengo jogará defensivamente”…
É muita gente “fazendo sinal” por aí. Parece até guarda de trânsito desesperado. Por que não INDICAR ou APONTAR?
É bom trocar de vez em quando.
2.    Complicado é difícil

Hoje em dia, tudo que está difícil é complicado.
Se a solução é difícil, a solução está complicada. Se a situação não está nada boa, ela está complicada. Se o jogo é contra qualquer time argentino, será um jogo complicado. Se a polícia não consegue resolver o caso, é porque o caso é complicado.
Complicado virou moda. Tudo é complicado. É complicado até explicar por que o brasileiro gosta tanto da palavra.
Complicado, verdadeiramente, é o que não é simples. E difícil é o que não é fácil. Difícil e complicado não são necessariamente sinônimos.
O brasileiro em geral, pouco orgulhoso do seu idioma, costuma afirmar que a língua portuguesa é a mais difícil do mundo. É a nossa mania de grandeza: queremos ter o maior rio do mundo, o maior estádio de futebol do mundo, o rei do futebol. Então, por que não a língua mais difícil do mundo?
É tão “difícil” que qualquer criancinha brasileira, mesmo de classes sociais menos favorecidas, consegue falar, comunicar-se em língua portuguesa.
Linguisticamente não há línguas difíceis ou fáceis. Em geral, confundimos língua com gramática, falar com “falar corretamente”.
A língua portuguesa atende às nossas necessidades de comunicação como qualquer outra língua. “Complicado” é comparar a “dificuldade” da nossa gramática com a “simplicidade” da língua inglesa. O inglês não é mais fácil. Se você acha que a gramática da língua inglesa é mais simples, não significa que a língua portuguesa seja “a mais difícil do mundo”. Se isso fosse verdade, seria interessante comparar com o alemão, o russo, o chinês, o árabe, o hebraico…
Complicado, como dizem hoje, é ensinar o brasileiro a usar a chamada língua padrão. O primeiro problema é definir qual é a língua portuguesa padrão, o que é ou não aceitável. E o problema maior está no sistema de ensino brasileiro, mais especificamente no ensino da própria língua portuguesa. É aqui que entra a figura do professor. Além de educar e motivar, sua função é a de descomplicar, facilitar o aprendizado.
“Complicado” mesmo é exigir tudo isso de um profissional em geral malformado, certamente mal pago, sem maiores estímulos, sem condições de trabalho.
O Português não é difícil. “Complicada” está a educação no nosso país.
3.    Tem advérbio sobrando por aí

A linguagem esportiva é sempre muito rica em “invencionices” linguísticas. Com certa frequência, ouvimos pérolas como “o atacante estava LITERALMENTE impedido”. Ora, o advérbio LITERALMENTE, além de mal usado, é desnecessário.
LITERALMENTE significa “de modo literal”, vem do latim e quer dizer “com todas as letras”. Uma tradução literal é aquela que é feita com todas as letras, fiel ao texto original, sem fazer nenhuma alteração.
Assim sendo, usarmos LITERALMENTE com o sentido de “completamente, inteiramente” é bobagem.
É importante observarmos também que, se substituíssemos “literalmente impedido” por “completamente impedido”, seria outra besteira. Se ninguém pode ficar “parcialmente impedido”, dizer que “o atacante ficou COMPLETAMENTE impedido” é redundante, é desnecessário.
Outra expressão adverbial que vem sendo mal usada é o famoso COM CERTEZA. É comum ouvirmos jogador de futebol responder à pergunta do repórter: “Com certeza, se Deus ajudar e eu me recuperar, e se o técnico me der uma chance, no próximo domingo estarei em campo”. Ora, o nosso craque só tem dúvidas. De onde saiu o COM CERTEZA?
COM CERTEZA virou bengala, ou seja, aquela expressão que virou moda e muita gente usa antes de dizer qualquer coisa, mesmo quando não tem certeza.
É bom lembrar que COM CERTEZA e o advérbio CERTAMENTE existem e podem ser usados, desde que haja uma ideia afirmativa: “O diretor comparecerá à reunião COM CERTEZA” e “eu CERTAMENTE estarei de volta no próximo domingo”.
Fonte: G1.com

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