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Conhecendo o Sudário de Turim

 Sudário de Turim, ou o Santo Sudário é uma peça de linho que mostra a imagem de um homem que aparentemente sofreu traumatismos físicos de maneira consistente com a crucificação. O Sudário está guardado fora das vistas do público, na Catedral de Turim (Itália) (Italiano: Duomo di Torino), desde cerca de 1578. Desde 1983, pertence ao Vaticano, depois de uma doação de proprietários da casa de Saboia. A peça é raramente exibida em público, a última exposição foi no ano 2010 quando atraiu mais de 50 mil fiéis. 
Muitos católicos acreditam que seja o tecido que cobriu o corpo de Jesus Cristo no momento de seu sepultamento. A imagem no manto é em realidade muito mais nítida na impressão branca e negra do negativo fotográfico que em sua coloração natural. A imagem do negativo fotográfico do manto foi vista pela primeira vez na noite de 28 de Maio de 1898 através da chapa inversa feita pelo fotógrafo amador Secondo Pia que recebeu a permissão para fotografá-lo durante a sua exibição na Catedral de Turim. De acordo com Pia, ele quase deixou cair a chapa fotográfica devido ao choque de ver claramente a imagem de uma pessoa nela.
A origem da peça conhecida como Santo Sudário tem sido objeto de grande polémica. Para descrever seu estudo geral, os pesquisadores cunharam o termo "sindonologia", do grego σινδών—sindon, a palavra usada no evangelho de Marcos para descrever o tipo de tecido comprado por José de Arimateia para usar como mortalha de Jesus.
O sudário é uma peça rectangular de linho com 4,4 metros de comprimento e 1,1 de largura.
O negativo da foto do Sudário de Turim, tirada por Secondo Pia, é mais nítido que a foto original.
O tecido mostra as imagens frontal e dorsal de um homem nu, com as mãos pousadas sobre as partes baixas, consistentes com aprojecção ortogonal, sem a projeção referente à parte lateral do corpo humano. As duas imagens apontam em sentidos opostos e unem-se na zona central do pano. O homem representado no sudário tem barba e cabelo comprido pela altura dos ombros, separado por uma risca ao meio. Tem um corpo bem proporcionado e musculado, com cerca de 1,75 de altura. O sudário apresenta ainda diversas nódoas encarnadas que, interpretadas como sangue, sugerem a presença de vários traumatismos:
  • ferida num dos punhos, de forma circular; o segundo punho está escondido em segundo plano;
  • ferida na zona lateral, aparentemente provocada por instrumento cortante;
  • conjunto de pequenas feridas em torno da testa;
  • nenhuma evidência de perna fraturada; e
  • série de feridas lineares nas costas e pernas.
28 de Maio de 1898, o fotógrafo italiano Secondo Pia tirou a primeira fotografia ao sudário e constatou que o negativo da fotografia assemelhava-se a uma imagem positiva do homem, o que significava que a imagem do sudário era, em si, um negativo. Esta descoberta lançou o mote para uma discussão científica que ainda hoje permanece aberta: o que representa o sudário?


História

Até o século XIII

Uma das primeiras representações do sudário de Edessa, do século IX
As primeiras referências a um possível sudário surgem na própria Bíblia. O Evangelho de Mateus (27:59) refere que José de Arimateia envolveu o corpo de Jesus Cristocom "um pano de linho limpo". João (19:38-40) também descreve o evento, e relata que os apóstolos Pedro e João, ao visitar o túmulo de Jesus após a ressurreição, encontraram os lençóis dobrados (Jo 20:6-7). Embora depois desta descrição evangélica o sudário só tenha feito sua aparição definitiva no século XIV, para não mais ser perdido de vista, existem alguns relatos anteriores que contêm indicações consistentes sobre a existência de um tal tecido em tempos mais antigos.
A primeira menção não-evangélica a ele data de 544, quando um pedaço de tecido mostrando uma face que se acreditou ser a de Jesus foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa. Suas primeiras descrições mencionam um pedaço de pano quadrado, mostrando apenas a face, mas São João Damasceno, em sua obra anti-iconoclasta "Sobre as imagens sagradas", falando sobre a mesma relíquia, a descreve como uma faixa comprida de tecido, embora afirmasse que se tratava de uma imagem transferida para o pano quando Jesus ainda estava vivo.
Em 944, quando esta peça foi transferida para ConstantinoplaGregorius Referendarius, arquidiácono de Hagia Sophia pregou um sermão sobre o artefato, que foi dado como perdido até ser redescoberto em 2004 num manuscrito dos arquivos do Vaticano. Neste sermão é feita uma descrição do sudário de Edessa como contendo não só a face, mas uma imagem de corpo inteiro, e cita a presença de manchas de sangue. Outra fonte é o Codex Vossianus Latinus, também no Vaticano, que se refere ao sudário de Edessa como sendo uma impressão de corpo inteiro 
Outra evidência é uma gravura incluída no chamado Manuscrito Húngaro de Preces, datado de 1192, onde a figura mostra o corpo de Jesus sendo preparado para o sepultamento, numa posição consistente com a imagem impressa no sudário de Turim.
A gravura no "Manuscrito Húngaro de Preces"
Em 1203, o cruzado Roberto de Clari afirmou ter visto o sudário em Constantinopla nos seguintes termos: "Lá estava o sudário em que nosso Senhor foi envolto, e que a cada quinta-feira é exposto de modo que todos possam ver a imagem de nosso Senhor nele". Seguindo-se ao saque de Constantinopla, em 1205 Theodoros Angelos, sobrinho de um dos três imperadores bizantinos, escreveu uma carta de protesto ao papa Inocêncio III, onde menciona o roubo de riquezas e relíquias sagradas da capital pelos cruzados, e dizendo que as jóias ficaram com os venezianos e relíquias haviam sido divididas entre os franceses, citando explicitamente o sudário, que segundo ele havia sido levado para Atenas nesta época.
Dali, a partir de testemunhos de época de Godofredo de Villehardouin e do mesmo Roberto de Clari, o sudário teria sido tomado por Otto de la Roche, que se tornou Duque de Atenas. Segundo a pesquisadora italiana Barbara Frale, os templários teriam mantido o sudário por um século em sua posse e o levado àFrança.[11] Ainda há controvérsia se o sudário de Edessa (chamado Mandylion) seria o mesmo de Turim, em vista de referências que indicariam sua presença em Constantinopla até 1362, cinco anos após sua aparição no Ocidente.

Século XIV

Então começa a parte da história do sudário que é bem documentada. O sudário reapareceu em 1357 em poder da viúva de Jean de Charney, neto do templário Geoffroy de Charney, o exibiu na igreja de Lirey. Não foi oferecida nenhuma explicação para a súbita aparição, nem a sua veneração como relíquia foi imediatamente aceita. Henrique de Poitiers, arcebispo de Troyes, apoiado mais tarde pelo rei Carlos VI de França, declarou o sudário como uma impostura e proibiu a sua adoração. A peça conseguiu, no entanto, recolher um número considerável de admiradores que lutaram para a manter em exibição nas igrejas. Em 1389, o bispo Pierre d’Arcis (sucessor de Henrique) denunciou a suposta relíquia como uma fraude fabricada por um pintor talentoso, numa carta a Clemente VII (em Avinhão). D’Arcis menciona que até então tem sido bem sucedido em esconder o pano e revela que a verdade lhe fora confessada pelo próprio artista, que não é identificado. A carta descreve ainda o sudário com grande precisão. Aparentemente, os conselhos do bispo de Troyes não foram ouvidos visto que Clemente VII declarou a relíquia sagrada e ofereceu indulgências a quem peregrinasse para ver o sudário.[13]
Pintura de Giovanni Battista della Roveremostrando o sudário e a forma como Jesus foi envolvido

Século XV

Em 1418, o sudário passou a ser propriedade de Umberto de Villersexel, Conde de La Roche, que o removeu para o seu castelo de Montfort, sob o argumento de proteger a peça de um eventual roubo. Depois da sua morte, o pároco de Lirey e a viúva travaram uma batalha jurídica pela custódia da relíquia, ganha pela família. A Condessa de La Roche iniciou então uma tournée com o sudário que incluiu as catedrais de Genebra e Liège.
Em 1453, o sudário foi trocado por um castelo (não vendido porque a transacção comercial de relíquias é proibida) com o duque Luís de Saboia. A nova aquisição do duque tornou-se na atracção principal da recém construída catedral de Chambéry, capital do Ducado de Saboia, de acordo com cronistas contemporâneos, envolvida em veludo carmim e guardada num relicário com pregos de prata e chave de ouro.

Século XVI aos nossos dias

O sudário foi mais uma vez declarado como relíquia verdadeira pelo Papa Júlio II em 1506. Em 4 de dezembro de 1532, o sudário foi danificado por um incêndio que afectou a sua capela e pela água das tentativas de o controlar.
Em 1562, a capital do Ducado de Saboia foi transferida de Chambéry para Turim e, em 1578 a peça foi levada para a catedral de Turim, onde está até hoje naCappella della Sacra Sindone do Palazzo Reale di Torino.
casa de Saboia foi a proprietária do sudário até 1983, data da sua doação ao Vaticano. A última exibição da peça foi no ano 2000, a próxima está agendada para 2010.[15] Em 2002, o sudário foi submetido a obras de restauro.


Análise científica

As primeiras análises ao sudário foram realizadas em 1977 por uma equipe de cientistas da Universidade de Turim que usou métodos de microscopia. Os resultados demonstraram que a imagem do sudário é composta por inúmeras gotículas de tinta fabricada a partir de ocre. Em 1978, a equipe americana do STURP (Shroud of Turin Research Project) teve acesso ao sudário durante 120 horas.] A equipe era composta por 40 cientistas, dos quais apenas 7 católicos e um ateu, Walter C. McCrone, que retirou-se logo no início das investigações.Foram realizados muitos experimentos que envolveram diversas áreas da ciência, como fotografias com diferentes tipos de filme, radiografia de raios X, raio X com fluorescência, espectroscopiainfravermelho e retirada de amostras com fita, mas não foi autorizado a fazer o teste por datação carbono-14.

Datação por radiocarbono

Em 1988, a Santa Sé autorizou os primeiros testes de datação radiométrica do sudário, segundo o método do carbono-14. Foram colhidas três amostras que foram entregues a três laboratórios independentes: Universidade de Oxford (UK), Universidade do Arizona (EUA) e o ETH Zürich (Suíça). Todas as análises revelaram idades entre os séculos XIII e XIV, mais concretamente no intervalo 1260-1390. Apesar dos resultados serem claramente posteriores aoséculo I, a variação que apresentam merece explicação. Foi pedida autorização ao Vaticano para efectuar mais testes mas, até à data esta pretensão tem vindo a ser recusada com o argumento de que a colheita de mais amostras pode danificar a peça.
A datação radiométrica por carbono-14 é uma metodologia bastante precisa, apresentando margem de erro de 0,4% para materiais com até 10000 anos de idade. Existem, no entanto, várias fontes de erro que podem induzir resultados duvidosos. Muita da polémica sobre a autenticidade do sudário foca as possíveis fontes de erros da datação.
O ensaio do carbono reativo feito em 1988 por três equipes de cientistas independentes indicou como resultados que o manto foi feito durante a Idade Média, aproximadamente treze séculos posterior a Cristo. Alegações de incertezas e erros nos exames surgiram imediatamente após a publicação dos resultados e foram em grande parte respondidas por Harry E. Gove. Ainda assim, a controvérsia continua. Análises posteriores, publicadas em 2005, por exemplo, atestam que a amostra analisada pelas equipes de cientistas foi retirada de uma zona do manto que não faz parte do tecido original. O Sudário foi também danificado devido a um incêndio no final da Idade Média, o que poderia ter acrescentado carbono reativo à composição do tecido invalidando a aplicação da análise por carbono reativo. Este laudo por sua vez foi questionado por céticos como Joe Nickell, que acredita que as conclusões do seu autor, Raymond Rogers,resultam de uma "busca de evidências que possam garantir uma conclusão previamente desejada". Philip Ball, da revista "Nature", contestou esta afirmação dizendo que a idéia de que os estudos de Rogers tenham sido direcionados para a obtenção de uma conclusão pré-estabelecida é injusta e Rogers "apresenta uma história de trabalho respeitável". Todavia, a pesquisa de 2008 na unidade de aceleração de carbono reativo da Universidade de Oxford propõe uma revisão da data a que se atribui à criação do manto de 1390 para 1260, o que levou seu diretor Gordan Ramsey a convocar a comunidade científica a novas comprovações sobre autenticidade do Sudário. "Com as medidas do ensaio de carbono reativo e com todas as outras evidências que se possui a respeito do Sudário, ainda existem conflitos de interpretação de diferentes fontes" disse Gordan ao noticiário da BBC em 2008, após a publicação dos novos resultados. Apesar de manter uma mente aberta quanto ao tema, Ramsey enfatizou que ficaria surpreso se sobre os ensaios de 1988 fosse comprovado um erro de dez séculos.
A datação do sudário foi contestada pelo argumento de contaminação bacteriana. Em resposta, os cientistas que realizaram as análises de carbono-14 afirmam que excluíram a priori esta possibilidade e que o método é preciso, embora as datações várias tenham dado resultados diferentes. Um especialista neo-zelandês afirmou ainda que um erro de treze séculos devido a contaminação bacteriana é possível, mas implicaria uma camada de bactérias com o dobro da espessura do tecido, o que afasta esta teoria. O intervalo de resultados (1290-1390) é explicado pela influência do incêndio de Chambéry de 1532 e subsequentes tentativas (desastradas) de restauro. Sendo assim, e devido aos acidentes, a datação com carbono-14 não seria exata. [24] Porém segundo o Dr. Walter McCrone, um peso de carbono do século XX igual a duas vezes o peso total do sudário seria necessário para fazer um objeto do século I ser datado como do século XIV, e portanto haveria suficiente certeza que o sudário seria uma criação medieval.[25]
No entanto, Joseph G. Marino e M. Sue Benford propuseram que a área de tecido usada como amostra pode não pertencer ao tecido original (nenhuma das amostras continha uma área "manchada"), uma vez que quase 60% do tecido do Sudário é resultado de progressivas reparações feitas ao longo dos séculos. O académico Raymond Rogers argumentou, num artigo publicado em 2005, que a análise química por ele realizada confirmava esta hipótese, uma vez que as amostras usadas na datação-por-carbono mostram traços evidentes de corantes, provavelmente usados pelos tecelões medievais para conseguir a cor do tecido original ao realizarem reparações e reforçarem o sudário para maior protecção. outros autores apresentaram ainda evidências adicionais neste sentido.


Propriedades químicas

Foram também efectuados testes químicos ao sudário por especialistas das Universidades de Milão e da Califórnia. Os métodos utilizados foram a análise espectral e fotografia ultra-violeta. Os resultados mostram que a porção amostrada para datação radiométrica é distinta do resto do tecido, nomeadamente pela presença de pigmentos e fixantes. Este resultado sugere que esta porção do tecido seja na realidade um remendo posterior. Outra diferença consiste na presença de vanilina, um produto da decomposição térmica da linhina (um composto das fibras naturais). A vanilina é um composto habitual na análise a tecidos da Idade Média, mas que se encontra ausente em amostras mais antigas, uma vez que sofre decaimento. Segundo Raymond Rogers: "O fato de que a vanilina não pode ser detectada na lignina das fibras do manto, pergaminhos do Mar Morto e outros pedaços de linho muito antigos indica que o manto é muito velho".


Possíveis meios de formação da imagem

A imagem no tecido tem muitas características peculiares e profundamente estudadas. Por exemplo, ela é inteiramente superficial, não penetrando nas fibras do tecido sob a superfície, de forma que as fibras do algodão não estão coloridas; a imagem é composta de fibras descoloridas dispostas lado a lado com fibras não descoloridas de forma que estrias aparecem. Então o tecido não é simplesmente pigmentado, e muitas outras explicações, naturais ou não, têm sido sugeridas para a formação da imagem. Entre os pesquisadores que já publicaram trabalhos, Walter McCrone acreditava que toda a imagem era composta de pigmento. Porém, esta hipótese foi descartada depois que inspeção mais detalhada mostrou que não há mais pigmentos na área de imagem que na área sem imagem do sudário. Outros resultados têm mostrado a imagem como uma descoloração e não como uma coloração

Fonte: Wikipédia

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