Após os quatro dias da audiência de instrução do caso Mércia Nakashima em Guarulhos, na Grande São Paulo, o principal acusado de matar a advogada, o ex-namorado e sócio dela, o policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, afirmou na noite desta quinta-feira (21) que as fotos de sua filha que levava no bolso do terno foram o seu “calmante” durante os tensos depoimentos.
Mizael, que é réu no processo pelo crime juntamente com o vigia Evandro Bezerra Silva, disse em entrevista ao G1 que chegou a dormir apenas uma hora por noite entre uma audiência e outra no fórum. Ele também comentou como se sentiu dentro do plenário.
Apesar de não saber ainda se ele e o vigilante serão levados pelo juiz Leandro Jorge Bittencourt Cano a julgamento pelo homicídio, o advogado declarou pela primeira vez, desde o início das investigações, que perdoa o delegado Antônio de Olim. O policial civil do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) foi o responsável pelo indiciamento que o apontou como assassino de Mércia e o levou a situação em que se encontra atualmente: respondendo a um processo no qual alega ser inocente.
“Soube perdoar. Aprendi a perdoar. Hoje eu perdoo Olim por ter me colocado nessa situação. Aprendi a perdoa-lo quando passei a compreendê-lo. Ele deve ter seus motivos para ter me apontado como responsável pelo crime. Qual a forma de enfrentar o inimigo? É perdoá-lo, não? Mas não tentar perdoá-lo por perdoar, porque senão você mata a pessoa dentro de você. É preciso compreender antes de perdoar. Eu compreendi o Olim e hoje o perdoo. A partir daí, ele renasceu de outro jeito dentro de mim."
Inocência
Apesar de afirmar que perdoa o delegado, Mizael insistiu na sua inocência. “Volto a dizer que não cometi crime algum e não matei ninguém. Quero deixar isso bem claro. Enfim, foi duro ouvir Olim dizer que eu caí em contradição nos depoimentos que havia dado a polícia. Se eu chorei é porque entrei em contradição e se eu não choro é porque sou frio? ‘Chorar foi a primeira coisa que aprendemos quando viemos ao mundo e a primeira coisa que represamos depois’. Essa frase não é minha, é de Augusto Cury, autor do livro ‘Você é Insubstituível’, que li durante os dias de audiência também”, disse Mizael, que também leu ‘O Processo’, de Franz Kafka.
Para ele, foram as fotos da filha que o fizeram manter a calma. "Foram quatro dias muito desgastantes. Uma verdadeira maratona. Teve momentos em que fiquei nervoso, tenso. Afinal de contas, estão me acusando de um crime que jamais cometi, que nunca fiz. Sou inocente, gente. Nunca fiz nada contra ninguém. Quando me pegava nesses momentos, vendo aquelas testemunhas me acusarem de algo que não fiz, eu me apegava a minha filha. Levei duas fotos dela comigo. São fotos grandes, do tamanho 10 cm x 15 cm. Bastava eu olhar para as fotos e me tranquilizava. Quando olho para alguma foto da minha filha, é um calmante”, disse Mizael à reportagem.
A tensão era tamanha, disse, que chegou a dormir apenas uma hora por noite. Em um dos depoimentos mais tensos, o do delegado Olim, que chegou a discutir com Mizael durante a fase de investigação num vídeo gravado pela polícia e que afirmou que iria vê-lo na cadeia, o advogado disse que conseguiu manter a calma graças às fotos da filha que teve com a ex-mulher.
Questionado se está se preparando para a hipótese de o juiz decidir levá-lo a júri, Mizael afirmou que acredita na Justiça. “Eu acho que o doutor Leandro teve um contato comigo durante a audiência. Eu nunca menti na polícia ou aqui. Não há indício e prova. Se acontecer a pronúncia, vou respeitar a Justiça e vou entrar com recursos cabíveis contra isso porque sou inocente”, disse o advogado.
De acordo com Mizael, o fato de ele ter conseguido no Tribunal de Justiça de São Paulo a decisão dos desembargadores para continuar respondendo ao processo em liberdade se deve principalmente à ação de seus advogados. “Agradeço meus amigos e advogados. Eles foram éticos, profissionais e acima de tudo demonstraram garra e dedicação durante essa caminhada que estou passando nesse momento”, disse Mizael, que tem três advogados: Ivon Ribeiro, Samir Haddad Júnior e Wagner Garcia.
Indagado se sente medo de sair na rua após a audiência, Mizael afirmou que apesar de ter sido hostilizado na porta do fórum, a maioria das pessoas que encontra o respeita. “Manifestações são de grupos organizados e controlados. O receio sempre existe. Tem pessoas que resmugam. Com a população em geral sou bem recebido”, afirmou Mizael, que disse que a primeira coisa que fará agora é descansar. "Vou dormir um pouco.”
Nesta sexta-feira (22), ele disse que retomará a rotina e voltará ao escritório de advocacia que mantém em Guarulhos.
Fonte: G1
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