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Língua Portuguesa: Temas Polêmicos

1.    O verbo ADEQUAR é defectivo ou não?
Todos nós aprendemos que o verbo ADEQUAR é defectivo, ou seja, é defeituoso, não tem conjugação completa.
A dúvida se deve ao fato de o dicionário Houaiss considerar completa a conjugação do verbo ADEQUAR.
É polêmica na certa.
A realidade é que, para a maioria dos nossos gramáticos, o verbo ADEQUAR é defectivo: no presente do indicativo, só tem a primeira pessoa do plural (=nós adequamos) e a segunda pessoa do plural (=vós adequais); no presente do subjuntivo, não há pessoa alguma. É essa a visão dos professores que organizam a maioria dos nossos concursos.
Há, entretanto, um bom número de estudiosos, entre eles a equipe que organizou o dicionário Houaiss, que já aceita a conjugação completa do verbo ADEQUAR:
PRESENTE DO INDICATIVO / PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu adéquo                                que eu adéque
Tu adéquas                              que tu adéques
Ele adéqua                               que ele adéque
Nós adequamos                       que nós adequemos
Vós adequais                           que vós adequeis
Eles adéquam                          que eles adéquem
Segundo a tradição gramatical, entretanto, o verbo ADEQUAR é defectivo. Verbo defectivo é aquele que tem defecção (=falta de algumas formas). O verbo ADEQUAR, por exemplo, só apresenta as formas arrizotônicas (=sílaba tônica fora da raiz). Em termos práticos, significa que não tem as três pessoas do singular e a 3a do plural (=eu, tu, ele e eles) do presente do indicativo e, consequentemente, nada no presente do subjuntivo.
Para ficar bem claro:
PRESENTE DO INDICATIVO  /   PRESENTE DO SUBJUNTIVO
Eu        -                                                -
Tu        -                                                -
Ele       -                                                -
Nós adequamos                                   -
Vós adequais                                        -
Eles      -                                               -
Nos tempos do pretérito e do futuro, tudo normal: ele adequou, adequava, adequara, adequará, adequaria, adequando, adequado…

Numa frase do tipo “É preciso que a nossa empresa SE ADÉQUE ou SE ADEQÚE à realidade do mercado”, a solução é: “…que a nossa empresa FIQUE ADEQUADA à realidade do mercado”.
2. Verbos, verbos, verbos…
Outro verbinho “problemático” é o EXTORQUIR. Além de defectivo (=eu “extorco” não existe), temos um problema semântico.
O verbo EXTORQUIR vem do latim extorquere (=arrancar alguma coisa de alguém sob tortura). O prefixo “ex” significa movimento para fora (=arrancar) e torquere é torcer (=implícita aqui a ideia de tortura). Isso significa que o verbo EXTORQUIR, desde a sua origem, é usado como “arrancar”.
É correto, portanto, quando ouvimos que “o policial extorquiu a confissão do criminoso” ou “o sequestrador está extorquindo dinheiro da família do empresário”. Inadequado é “alguém extorquir alguém”. Na frase “bandido está extorquindo comerciante”, temos o mau uso do verbo extorquir.
Para você não errar, use o seguinte “macete”: só use o verbo EXTORQUIR se ele for substituível por “arrancar”.
Observe a diferença:
“…extorquir a confissão do criminoso” = “arrancar a confissão”; “…extorquir dinheiro da família” = “arrancar dinheiro”;
“…extorquir o comerciante” = inadequado, porque não é possível “arrancar” o comerciante;
“…extorquir a família do sequestrado” = inadequado também,
porque não é possível “arrancar” a família do sequestrado.
Outros verbos que merecem atenção são EXPLODIR, ABOLIR e DEMOLIR. São todos defectivos: só existem nas formas verbais em que após a raiz aparecem as vogais “e” ou “i”: explode, explodem, explodindo, abolimos, abolido, demolimos, demoliu, demolindo…
Assim sendo, rigorosamente não “existem” formas como “expludo ou explodo, abulo ou abolo, demula ou demola”.

3. Ele foi PEGO ou PEGADO em flagrante?
Existem alguns verbos que nos deixam de cabelo em pé: GANHO ou GANHADO, GASTO ou GASTADO, PAGO ou PAGADO, PEGO ou PEGADO?
Alguns gramáticos defendem o uso exclusivo das formas clássicas: GANHADO, GASTADO, PAGADO e PEGADO. Outros preferem o uso exclusivo daquelas formas que o brasileiro consagrou: GANHO, GASTO, PAGO e PEGO.
Há ainda os moderados. São aqueles que aceitam as duas formas de acordo com a regra dos particípios abundantes:
Após os verbos TER ou HAVER, devemos usar a forma
clássica: tinha aceitado, havia suspendido, tinha ganhado, havia gastado, tinha pagado;
Após os verbos SER ou ESTAR, usamos a forma irregular: foi
aceito, estava suspenso, fora ganho, era gasto, será pago.
O mestre Celso Cunha defende o uso de ganho, gasto e pago após qualquer verbo auxiliar: ser ou ter ganho, ser ou ter gasto. Assim sendo, “a conta foi paga”, mas “ele tinha pago ou pagado a conta”.
Concordo com o professor Celso Cunha. Não podemos jogar no lixo as formas clássicas nem ignorar as novidades linguísticas. Incluo ainda o verbo PEGAR. A forma PEGADO estará sempre correta, mas a forma PEGO está consagradíssima: “Ele tinha PEGADO os documentos” e “Ele foi PEGO em flagrante”.
Inaceitáveis ainda são as tais histórias de “ele tinha chego” e “ele tinha trago”. Nesse caso, no padrão culto da língua portuguesa, as formas clássicas estão preservadas: “ele tinha chegado” e “ele tinha trazido”.

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