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Remédios que brotam da terra

Recursos naturais ajudam a amenizar sintomas de alergia, dores na coluna, infecções e problemas crônicos.
Quem vê o trabalho da artesã Geralda Chaves não imagina que tudo que ela faz já foi contraindicado por médicos para ela. Dona Geralda sofreu com alergias e outras complicações. "Foram 38 anos de bronquite e infecção urinária, sem parar. Tomava antibiótico e cortisona", lembra. 

Mas agora é diferente. "Nunca mais tomei antibiótico, cortisona nem remédio de bronquite. Não tenho mais bronquite", diz dona Geralda, que sentiu a melhora depois dos escalda-pés, massagens e remédios à base de ervas.


"Para cada paciente é uma receita. Não é tudo igual para todo mundo", conta a técnica de enfermagem Clara Maria de Carvalho. 

É a medicina antroposófica, uma novidade no Sistema Único de Saúde (SUS) encontrada em São João del Rei, no interior de Minas Gerais. Em meio às lembranças de um passado rico e cheio de histórias, uma clínica na periferia da cidade oferece os tratamentos, que parecem do tempo da vovó. E é cada vez maior o número de pessoas que vão procurar ajuda. A técnica em enfermagem Simone Batista leva o pequeno João Gabriel. "Ele tem muita cólica", conta. 

Da recepção, eles seguem direto para a cozinha. No local, o médico antroposófico Paulo Maurício Vieira ensina a receita para aliviar as dores do bebê. "Você enche um travesseirinho com macela e guarda em um saco plástico, para não perder o cheiro. Se perder o cheiro, tem que trocar a macela. Tem que ficar no plástico, sempre guardadinho em um saquinho. Quando ele estiver com dor, você esquenta o travesseirinho com macela em uma bolsa de água quente e coloca na barriguinha. Fica quentinho. Esse procedimento alivia bem a cólica e pode ser feito várias vezes. Quando esfriar, você coloca de novo na barriguinha", orienta o médico, que também dá um remédio natural, feito de camomila, nicotiana e beladona. 

"Eu vim porque ele aliviou a dor do neném da minha amiga", conta Simone. 

O remédio pode estar onde nem se imagina: no ar, na água, na terra. A medicina antroposófica usa vários elementos e técnicas naturais. Parte da filosofia de que a ligação entre homem e natureza está em todos os elementos, mas é preciso conhecimento para saber aplicá-los com bons resultados. 

Geriatra e especialista em saúde da família, doutor Paulo Maurício estuda a antroposofia há dez anos. E diz que as diferenças começam na consulta do médico. "Primeiro, ele observa a pessoa: o gestual quando ela chega, a vitalidade dela. Depois, observa como essa pessoa se expressa. Depois, ele quer saber da vida desse indivíduo, como ele está inserido dentro da própria família, da comunidade, seus desejos", explica. Para ele, é como examinar o corpo e a alma do paciente. 

O ajudante de pedreiro Domingos Sávio Pereira tem uma hérnia de disco e uma artrose na coluna. 

"Parece que sua coluna está bem afetada pelo esforço que você faz no trabalho. Isso justifica a dor que você está sentindo", constata doutor Paulo Maurício. 

O ajudante de pedreiro chegou a perder vários dias de trabalho. "Eu tinha muita dor na coluna, nas costas e nas pernas. Não conseguia trabalhar", lembra seu Domingos. 

O remédio para ele foi cavado à enxada. É argila, levada para a clínica de carrocinha, com todo o cuidado. A receita é elaborada, temperada com ervas. Depois, é montado um emplastro sobre uma gaze, que precisa ser aquecida no vapor. 

"Depois, é retirada e colocada onde a pessoa estiver sentindo dor. É um antiinflamatório porque contém arnica. A argila por si só já faz efeito, mas a arnica e a erva-de-são-joão ajudam a aliviar a dor. A aplicação é feita duas vezes por semana", explica a agente de saúde Neide Santos. 

"Agora ando para todo lado, trabalho. Melhorei muito", diz seu Domingos. 

Dona Geralda também experimentou argila para aliviar dores no braço e nas cicatrizes de cirurgias no abdômen. "Não tem nada doendo. Melhorou 200%", afirma a artesã. 

O médico ainda receitou medicamentos antroposóficos, fórmulas similares às da homeopatia. 

"Não elimina a medicina tradicional de jeito nenhum. Ela é complementar à medicina alopática, com recursos naturais. Auxilia ampliando a visão do ser humano como ser terreno e espiritual", esclarece doutor Paulo Maurício. 

Para dona Geralda, deu tão certo que ela já está há cinco anos sem tomar antibiótico. Bronquite e infecção urinária, que eram comuns, são fantasmas que não assombram mais. Como as lendas da cidade que ela borda em seus trabalhos. O artesanato, que antes era contraindicado porque os materiais provocavam alergia, agora é recomendado para baixar a ansiedade, outro mal que ela está vencendo. 

"Foi um trabalho que espantou minhas assombrações", diz dona Geralda.

G1.com

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