José Martiniano de Alencar nasceu em 1º de maio de 1829, em Mecejana, Ceará. Filho do padre José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará), foi fruto de uma união ilícita e particular do padre com a prima Ana Josefina de Alencar. Quando criança e adolescente, era tratado em família por Cazuza, mais tarde, adulto, ficou conhecido nacionalmente como José de Alencar, um dos maiores escritores românticos do Brasil.
Fria, triste, garoenta, apresentando uma vida social que dependia quase exclusivamente do mundo estudantil, graças à existência de sua já famosa faculdade de Direito: assim era São Paulo em 1844, quando nela desembarcou o cearense para morar com o primo e mais dois colegas numa república de estudantes da Rua São Bento.
Na escola de Direito discutia-se tudo. Política, Arte, Filosofia, Direito e, sobretudo, Literatura. Era o tempo do Romantismo, novo estilo artístico importado da França. Esse estilo apresentava, em linhas gerais, as seguintes características: exaltação da natureza, patriotismo, idealização do amor e da mulher, subjetivismo, predomínio da imaginação sobre a razão. Mas o Romantismo não era apenas um estilo artístico: acabou tornando-se um estilo de vida. Seus seguidores, como os acadêmicos de Direito, exibiam um comportamento bem típico: vida boêmia, regada a muita bebida e farras. As farras, segundo eles, para animar a vida na tediosa cidade; a bebida, para serem tocados pelo sopro da inspiração.
O jovem cearense jamais se adaptaria às rodas boêmias tão assiduamente frequentadas por outro companheiro que também ficaria famoso: Álvares de Azevedo.
Terminado o período preparatório, Alencar matriculou-se na Faculdade de Direito em 1846. Tinha 17 anos incompletos e já ostentava a cerrada barba que nunca mais raparia. Com ela, a seriedade de seu semblante ficava ainda mais acentuada.
O senador Alencar, muito doente, voltava para o Ceará em 1847, deixando o resto da família no Rio. Alencar viajou para o estado de origem, a fim de assistir o pai. O reencontro com a terra natal faria ressurgir as recordações de infância e fixaria na memória do escritor a paisagem da qual ele jamais conseguiria se desvincular inteiramente. É esse o cenário que aparece retratado em um de seus romances mais importantes: Iracema [...]
O senador Alencar, muito doente, voltava para o Ceará em 1847, deixando o resto da família no Rio. Alencar viajou para o estado de origem, a fim de assistir o pai. O reencontro com a terra natal faria ressurgir as recordações de infância e fixaria na memória do escritor a paisagem da qual ele jamais conseguiria se desvincular inteiramente. É esse o cenário que aparece retratado em um de seus romances mais importantes: Iracema [...]
Um dos números do jornal Correio Mercantil de setembro de 1854 trazia uma seção nova de folhetim – Ao correr da pena – assinada por José de Alencar, que estreava como jornalista. O folhetim, muito em moda na época, era um misto de jornalismo e literatura: crônicas leves, tratando de acontecimentos sociais, de teatro, de política, enfim, do cotidiano da cidade.
Alencar tinha 25 anos e obteve sucesso imediato no jornal onde trabalharam posteriormente Machado de Assis (dez anos mais jovem que ele) e Joaquim Manuel de Macedo. Sucesso imediato e de curta duração. Tendo o jornal censurado um de seus artigos, o escritor desligou-se de sua função.
Começaria nova empreitada no Diário do Rio de Janeiro, outrora um jornal bastante influente, que passava naquele momento por séria crise financeira. Alencar e alguns amigos resolveram comprar o jornal e tentar ressuscitá-lo, investindo dinheiro e trabalho.
Nesse jornal aconteceu sua estreia como romancista: em 1856, saiu em folhetins o romance Cinco Minutos. Ao final de alguns meses, completada a publicação, juntaram-se os capítulos em um único volume que foi oferecido como brinde aos assinantes do jornal. No entanto, muitas pessoas que não eram assinantes do jornal procuraram comprar a brochura. Alencar comentaria: ''foi a única muda, mas real animação que recebeu essa primeira prova. Tinha leitores espontâneos, não iludidos por falsos anúncios''. Nas entrelinhas, percebe-se a queixa que se tornaria obsessiva ao longo dos anos: a de que a crítica atribuía pouca importância a sua obra.
Com Cinco Minutos e, logo em seguida, A Viuvinha, Alencar inaugurou uma série de obras em que buscava retratar (e questionar) o modo de vida na Corte. O que aparece nesses romances é um painel da vida burguesa: costumes, moda, regras de etiqueta... Tudo entremeado por enredos onde amor e casamento são a tônica. Nessas obras circulam padrinhos interesseiros, agiotas, negociantes espertos, irmãs abnegadas e muitos outros tipos que servem de coadjuvantes nos dramas de amor enfrentados pelo par amoroso central.
É o chamado romance urbanode Alencar, tendência em que se enquadram, além dos acima citados, Lucíola, Diva, A pata da Gazela, Sonhos d'Ouro eSenhora, este último considerado sua melhor realização na ficção urbana. Além do retrato da vida burguesa na Corte, esses romances também mostram um escritor preocupado com a psicologia dos personagens, principalmente os femininos. Alguns deles, por isso, são até chamados de "perfis de mulheres". Em todos, a presença constante do dinheiro provoca desequilíbrios que complicam a vida afetiva dos personagens e conduz basicamente a dois desfechos: a realização dos ideais românticos ou a desilusão, numa sociedade em que ter vale muito mais do que ser. Alguns exemplos: emSenhora, a heroína arrisca toda sua grande fortuna na compra de um marido.
Emitia, o personagem central de Diva, busca incansavelmente um marido mais interessado em amor que em dinheiro. Em Sonhos d'Ouro, o dinheiro representa o instrumento que permitiria autonomia de Ricardo e seu casamento com Guida. A narrativa de A Viuvinha gira em torno do compromisso assumido por um filho no sentido de pagar todas as dívidas deixadas pelo pai.
Lucíola, finalmente, resume toda a questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações humanas em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, obviamente mostra a degradação a que o dinheiro pode conduzir o ser humano [...]
Enquanto era ministro da Justiça, contrariando ainda a opinião de D. Pedro II, Alencar resolveu candidatar-se ao senado. E foi o mais votado dos candidatos de uma lista tríplice. Ocorre que, de acordo com a constituição da época, a indicação definitiva estava nas mãos do imperador. E o nome de Alencar foi vetado.
Esse fato marcaria o escritor para o resto da vida. Daí para diante, sua ação política traz os sinais de quem se sentia irremediavelmente injustiçado. Os amigos foram aos poucos se afastando, e sua vida política parecia ter terminado. Mas era teimoso o suficiente para não abandoná-la.
Retirou-se para o sítio da Tijuca, onde voltou a escrever. Desse período resultam O Gaúcho e A Pata da Gazela (1870). Tinha 40 anos, sentia-se abatido e guardava um imenso rancor de D. Pedro II. Eleito novamente deputado, voltou à Câmara, onde ficaria até 1875. Nunca mais, como político, jornalista ou romancista, iria poupar o imperador [...]
Além do romance urbano e do indianista, o escritor ainda incorporaria outros aspectos do Brasil em sua obra. Romances como Til, O Tronco do Ipê, O Sertanejo e O Gaúcho mostram as peculiaridades culturais da nossa sociedade rural, com acontecimentos, paisagens, hábitos, maneiras de falar, vestir e se comportar diferentes da vida na Corte [...]
Na obra de Alencar há quatro tipos de romances:indianista, urbano, regionalista e histórico. Evidentemente, essa classificação é muito esquemática, pois cada um de seus romances apresenta muitos aspectos que merecem ser analisados. É fundamental, por exemplo, o perfil psicológico de personagens como o herói de O Gaúcho, ou ainda do personagem central de O Sertanejo. Por isso, a classificação acima se prende ao aspecto mais importante (mas não único) de cada um dos romances [...]
Com a glória de escritor já um tanto abalada, morreu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877. Ao saber de sua morte, o imperador D. Pedro II teria se manifestado assim: "Era um homenzinho teimoso''. Mais sábias seriam as palavras de Machado de Assis, ao escrever seis anos depois: “... José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos, e que há de ler a geração futura. O futuro não se engana...”
FARACO, Carlos. Biografia de José de Alencar. Disponível em http://www.culturabrasil.pro.br/josedealencar.htm. Acesso em 08 jun. 2009.
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